UM OUTRO OLHAR
Exposição “Um Outro Olhar” apresenta, em Vila Velha, fotografias feitas por mulheres com baixa visão
Dez mulheres com baixa visão são as fotógrafas participantes da exposição “Um Outro Olhar”, aberta ao público de 31 de julho, quinta-feira, a 2 de agosto, sábado, no Ponto de Cultura SOCA Brasil, no bairro Santa Mônica Popular, em Vila Velha.
As fotógrafas com baixa visão foram selecionadas em junho e participaram da oficina promovida pela Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil).
A Oficina, Um Laboratório de Descobertas
Ao todo, foram quatro encontros realizados com as professoras da Cia Poéticas da Cena Contemporânea Rejane Arruda, também idealizadora do projeto, e Renza Luíza.
“A ideia da oficina foi abrir um lugar de fala e, a partir da subjetividade de cada uma, montar um laboratório de captura de imagem e produção de estética fotográfica. Os modos de ver diversos fundamentam a produção estética. Nos Estados Unidos as pessoas de baixa visão são chamadas legally blind. Elas têm de 1% a 3% de visão, apenas a visão periférica, visão em cone ou só veem vultos. A baixa visão mostra que a deficiência visual é diversa. Interessa a singularidade do modo como cada mulher se relaciona com o mundo, a sua deficiência e as implicações sociais que ela traz”, ressalta Rejane.
A baixa visão e suas relações com a poética da Fotografia Contemporânea
“Muitas pessoas têm familiaridade com a ideia de uma pessoa cega, mas nunca ouviram falar da baixa visão. Aqui, elas encontraram na fotografia uma linguagem para dar seu recado ao mundo. Ao mesmo tempo, aprenderam a conceber a sua forma de ver como poética. É impressionante a semelhança da baixa visão com algumas características da poética visual contemporânea”, analisa a artista e cineasta Rejane Arruda, curadora da exposição.
Joseni Vitorino não tem visão central e enxerga por meio de uma pequena fresta em forma de ‘L’ no olho esquerdo na parte inferior e uma fresta em forma de triângulo no olho direito. Já Lucinéia Santos vê o mundo através de um pequeno buraco central, “como se estivesse olhando dentro de um canudo”, segundo ela.
“Foi a realização de um sonho. Eu sempre gostei de tirar fotos e fazer registros de passeios e viagens, mesmo que eu não veja exatamente o que está sendo retratado. Durante as oficinas, as professoras trabalharam com a gente o que é necessário para produzir uma foto do nosso jeito, explorando nosso modo ver. Não é aquela foto que as pessoas videntes estão acostumadas, mas uma imagem com um ângulo mais interessante ou sinistro, por exemplo”, conta Lucinéia.
A Inclusão pela Arte
A Cia Poéticas da Cena Contemporânea é o mesmo coletivo de artistas e educadores culturais que desenvolveu a metodologia da Escola de Fotógrafos Cegos, outro projeto da SOCA Brasil. Com um grupo de 12 fotógrafos cegos, o projeto organizou duas exposições coletivas: “Quando Fecho os Olhos Vejo Mais Perto” (2023), que circulou por Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, Colatina e São Mateus, e “Aqui Eu Habitei” (2024), com 80 obras expostas nas praças e parques de Vila Velha em 2024.
Desde 2019, a SOCA Brasil realiza projetos artísticos inclusivos como Orquestra Brasileira de Cantores Cegos, o Cena Diversa e a mostra de videografias Nada Me Falta, além de Escola de Fotógrafos Cegos e agora, o ponto de cultura SOCA Brasil.
Segundo a coordenadora Rejane Arruda, os projetos mostram as diversas formas diversas de ver, ouvir, falar, locomover-se, existir e pensar, dando visibilidade às pessoas com deficiência ao trazê-las para o campo da experimentação de linguagens artísticas setoriais.
O Ponto de Cultura SOCA Brasil conta com o fomento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e recursos destinados à Rede Cultura Viva por meio do Edital 003/2024 promovido pela Secretaria de Cultura de Vila Velha (SEMCULT) para o fomento ao desenvolvimento de projetos de Pontos e Pontões de Cultura para o oferecimento gratuito de atividades.
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA “UM OUTRO OLHAR”
de 31 de julho, quinta-feira, a 2 de agosto, sábado
das 16h às 21h
Ponto de Cultura SOCA Brasil - Espaço Contêiner, Rua Vinte e Quatro, 255, Santa Mônica Popular, Vila Velha (ES)