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DRAMATURGIA IN PERFORMANCE

Dispositivo para a construção de textos teatrais, de forma assistida.

Os atores-performers se colocam no espaço e jogam a partir de regras propostas por um diretor presente em cena, enquanto o dramaturgo registra, com os acertos e erros, enganos e preenchimentos possíveis, o acontecimento.

A sua escrita é projetada durante o ato. 

 

HOJE ELES EXPLODIRAM O PAÍS OU "DESCULPA, EU TENHO QUE IR"

Direção FAGNER SOARES
Escrita e Projeção REJANE ARRUDA
Registro em Video CAIO PEREIRA
Fotografia JULIO GABRIEL
Atuação e Jogo ALLAN MAYKSON, RAFAEL TEIXEIRA e ALBERTO CONTARATO
Trilha Sonora Original ALLAN MAYKSON
Edição e Finalização REJANE ARRUDA
Produção ASSOCIAÇÃO SOCIEDADE CULTURA E ARTE SOCA
Realização CIA POÉTICAS DA CENA CONTEMPORÂNEA
Apoio LEI ALDIR BLANC, FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA, PREFEITURA DE VILA VELHA.
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© Julio Gabriel 2021

Um de preto, o outro de jeans, informal. O outro veste uma camisa social branca e calça marrom. Um deles se perde. E depois estanca. Eles estão parados agora. Espectativa de algo que ainda não se deu.

 

O de preto procura algo, parece escutar. Olha para os lados. Coisas no chão.... é isso! Ele vê coisas no chão. Agulhas! Agulhas. Agulhas. Agulhas. Agulhas. O de jeans caminha devagar. "Eiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Eiiiiiiiiiiiiiii" O de preto grita.

 

- Uma cadeira, uma cadeira marrom, eu estava sentado nela. Senti um cheiro de rosas, rosas brancas. As coisas ao redor eram coloridas. Estranho tapete. Não tinha janelas, parecia  um sótão. Tinha quadros. Um dos quadros parecia janela, mas não era. Era um quadro. A imagem da cidade do lado de fora.

 

Movimentam-se lentamente.

 

- Desculpa. Vou ter que sair.

 

Movimentos ágeis de repente. Corpo desestruturado. Espasmos. O ser de negro se aproxima. Eles se espantam. As mãos não param. Ele faz um circulo. O outro lembra um fantoche.

 

- Se eu pudesse saber... quinze coisas sobre você. Três. Não.

 

O de chapéu e o de jeans se encontram.

 

- Eu aposto que você veio das montanhas. Desculpe, tenho que sair.

 

O de chapéu está parado de frente, com uma das mãos segura uma xícara. "Não" – ele grita.

 

- Eu sabia que não podia voar. Era seis horas da tarde quando eu não sabia voar. Eu só achava que tinha asas. Eu só acho que quando a gente tem uma asa a gente consegue voar. Mas eu não sei voar. Eu não sei. Eu não sei.

 

O de negro com flores vermelhas nas mãos, canta.

 

- Eu não sei, eu não sei....

 

Eles brincam com as flores vermelhas e cantam.

 

- Ele tinha medo das próprias asas.

 

- A outra chorava enquanto o seu querido partia. Com um buquê de rosas ela falava e chorava e pedia por favor que não cortassem suas asas, para que a viúva se fosse tranquila... O braço tremia e ela não sabia o que  esperava. Seu  corpo não descansava.

 

Eles tem os mesmos gestos, repetem tudo igual. Eles levantam as mãos com as flores até o limite, e de repente as largam no chão.

 

- Deixa eu te fazer uma pergunta, você sabe me dizer porque o remorso vai lhe corroer tanto? Sabe me dizer porque os mortos recebem mais coisas que os vivos? Porque o remorso é mais forte que a gratidão? Este remorso é o primeiro sentimento que você sente.... Desde a hora que você nasce até a hora que você...

 

Os dois caem na gargalhada. Riem de passar mal.

 

- Os poetas mortos te achariam patético. Na verdade, o remorso é todo seu. É muito mais fácil você abrigar suas mortes . Tudo aquilo que faz você ser o que você é assim como eu mesmo fiz ... a senhora devolve pra mim como se fosse um "Voley". Sim vamos levantar... Não eu devolvi pra você como se fosse um vomito. Não sou.... Tem certeza?

 

- Eu tenho que ir embora.

 

- Que pena. Eu queria ser melhor, mas não consigo.

 

Ele canta: "Eu criei uma mascara pra caber no meu umbigo." O outro dança. "Só deus sabe quanta dor, sem amor, que eu carrego". Eles dançam. "Mas eu levo só comigo, toda a dor que eu prego. Seria fácil demais, vomitar meus grilhões, condenar meus heróis. Mas agora eu me abro, para todo mundo me ouvir não há nada mais perigoso do que eu bem aqui." 

 

Eles dançam. "Ahahhhaahahaahahahahhaahahahahahahahahahahahahahahah Lahahah"

 

- Eu preciso ir.

 

- Dia 20 de agosto. A bomba explodia do lado do bar. Lá do ladinho. Dia 19 de novembro. Explodia outra lá do outro lado de frente pra igreja. 19 de janeiro. Explodia outra bomba dentro da minha casa. 7 de fevereiro. Explodia um quarteirão. Hoje eles explodiram o país. Desculpa. Eu tenho que ir.

 

- Eu tava lá. Eu tava lá sentado em cima de uma pedra, eu tava conversando com o rapaz. Ele olhava pra mim como se ele olhasse no fundo da minha alma. Podia ser que ele ... eu não sabia o que fazer.... Eu pensava que aquele dia nunca ia acabar. Era uma ideia atrás da outra. Parecia que tudo estava acontecendo de acordo com o meu sonho e o meu desejo. Parte 1. Parte 3 4 5. Era como uma bomba. Uma bomba que não parava de explodir. Explodia, depois implodia. E eu achava que eu tava dentro do olho do furacão, eu não sabia o que fazer, eu só queria ficar ali. É muito mais calmo do que a gente imagina. Desculpa eu tenho que ir.

 

- Ele entra cansado. Com as flores. Ele estava lá. Ouvia-se um barulho. Um som de sexo. Era horrível. Era alto. Uma penetração estranha, profunda. Tão alto que os moleques bêbados da cidade começaram a achar estranho. Eles queriam achar .... Imagina. Sons de sexo. Gemidos. Ahahahhahahahah ahahahahahahahah ahahahahahahahahah ahahahah ahahahahah. Você não ficaria curioso? Alguém ficou curioso e resolveu observar pela greta da casa. Uma coisa ninguém esperava. Aquele machista filho da puta ia ver os moleques na cama. Chegou de repente com aquele pau duro e botou os moleques pra correr. Aposto que eles nunca esqueceram aquele pau. Desculpa eu preciso ir.

 

- A gente cresce vendo televisão, série, filme, desenho e tudo isso vai mostrando pra gente que a gente que a gente vai passar por dificuldades e que tudo vai dar certo no final dos últimos vinte minutos do segundo tempo e.... por mais que uma pessoa .... venha no final com uma atitude grandiosa... para que mostre que.... no final das contas.... não tem um agradecimento... e você sabe que aquelas relações que você.... elas realmente nunca vão acontecer.

 

Risadas. Risadas. Risadas. Não param de rir. Se encostam no fundo da cena sem parar de rir. Caminham pelo fundo da cena ancorados na parede. Das risadas nascem gemidos. A figura de negro chora e ri ao mesmo tempo.

 

Um deles treme.

 

- Por que?

 

- Eu preciso ir.

 

- Desculpa eu preciso ir.

 

Sozinho, ele se ajoelha no centro da cena.

 

- Todos ... Mãe. ... Fizeram 17 anos... Meu medo é quando chegar nos 20. Fico com medo destes três... três ... longos... anos.... Eu... Mas eu preciso ir.

 

- Eles estão de braços dados. Caminham lentamente. Eu estava pensando se...

 

- O que você fazia ali naquele campo?

 

- Nada.

 

- Nada as vezes me parece ser tão intimo.

 

- (...)

 

- Vocês tem umas coisas que ficam assim incompletas né?  Como é o nome disso? O que você estava fazendo naquele campo?

 

- Não é da sua conta. Eu acho que você poderia respeitar o mesmo espaço talvez?

 

- Mas o que fazia naquele canto?

 

- Nada. É porque eu senti. Era tipo como se fosse. Tinha uma flores, tinha copos de leite espalhados e a parede era bem colorida, as janelas eram bem abertas, mas de grades. Não era para eu sair de la. Tinham pessoas cuidando da gente. Era legal. Tinha plantas de todos os tipos, arvores, jardim, tinha um jardim todo colorido todo coloridinho, bastante arvores, bastante madeira, copo de leite sempre teve naquele lugar. Copo de leite, mas não tinha água as pessoas falavam que a gente era bem tratado mas não tinha uma porra de um copo d’água. Todos diziam que a porta era a saída. Era uma porta vermelha. Vinha alguém e falava: Você não pode abrir a porra dessa porta. A única porta por onde você consegue passar é a porta branca. Quando você vai perceber você esta dormindo e porra, são cinco anos dentro desse.... com várias flores tudo clarinho tudo bem clarinho bebezinha. Isso não faz sentido nenhum. Só passaram cinco anos. Como se fossem cinco dias. Não quero passar mais cinco pensando que são dois. Eu quero sair daqui. Mas a porta vermelha. Mas chega uma pessoa com... Eu preciso ir embora.

 

- Era como a poeira. Quem diria. Queria crescer, criar uma caixa de interações e ter cérebro. Cérebro. Isso tudo, esse verme, esta coisa essa coisa intima, essa coisa asquerosa, essa coisa injusta, essa coisa mesquinha, essa coisa mediocre, essa coisa essa coisa essa coisa inescrupulosa, essa coisa mentirosa, essa coisa enganosa, essa coisa desprezível, essa coisa preconceituosa. Seres humanos. Mas aí a gente consegue desenvolver um outro olhar. De repente, estas coisas tão pequenas... Elas começam a ter um gosto pela vida, de repente.

 

- Eu gosto bastante de tomar sorvete. Sabe ir na praia? Comprar sorvete tomar sentir o sol escaldante na minha cabeça, é verdade são boas estas pequenas coisinhas a gente vai descobrindo que a gente gosta de coisa pequena, que a gente gosta de sorvete, gosta de sentar na praça, de reclamar um pouco do ser humano, de reclamar de reclamar daí nem o sorvete satisfaz mais e vai ficando monótono... Vai... esse vazio esse buraco, a sujeira. Coisas pequenas também. Não são grandiosas. É importante a gente se sentir pequeno. Mas o pior de tudo é... a gente crescer, a gente perde a noção das pequenas coisas. O doce não satisfaz mais. Eu só queria tomar sorvete.

 

- Três perdidos dentro da matemática... Ele não quis fazer esse tipo de coisa. Não tinha teto não tinha nada. Não sabe nada. Tres vezes isso aconteceu e ninguém percebeu. Ninguém percebeu nada. Não acredito! Três vezes isso aconteceu e ninguém percebeu. Três vezes, três vezes, três vezes e ninguém percebeu? Ninguém percebeu? Três vezes? Ninguém percebeu? Ninguém percebeu. Tres vezes. Ninguém percebeu. Mas três? Três vezes. Ninguém percebeu. Isso aconteceu? Aconteceu. Ninguém percebeu? Ninguém percebeu! Três vezes? Tres vezes aconteceu e ninguém percebeu? Trez vezes aconteceu e ninguém percebeu.

OUÇA NO SOCACAST SOBRE O PROCEDIMENTO

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